quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

lembrança

ontem vi a vida que nunca mais virei
o verde que é hoje azul
o príncipe que hoje é rei
o amargo, indigerível
mas o incrível adulterei


as minhas lembranças torcidas
as rugas da idade na face
o lodo no chão
a calçada rachada
a parede da cozinha,
novamente pintada


ontem vi o meu avô sorrindo
e hoje só fotografia
vi o passarinho voando,
que a gaiola não prendia


amanhã o esquecimento virá
vou virar à meu favor
e o que dirá a minha lembrança
"não quero lembrar de dor"
o que se monta dia-a-dia
isso não deve mudar

fantasia

me vesti numa mascara
e me entorpeci
parecia mais "cara"
que nem me conheci


segui rumo na estrada
uma vida tão linda
de visão bem focada
o que ainda não vi


só de brincadeira
eu fiz isso comigo
sei que o resto é besteira

eu sou meu inimigo
vou querer me vingar
vendo a morte chegar
à brincar neste bingo


_minha vida,
quem eu sou?
quero ler mais livros,
de histórias de amor

quero fantasia
aprender festejar
eu quero navegar
inventar alegria

poesia

quando era uma poesia
apaixonada e só sua
simples, ingênua, crua
Não se interessava, e não lia

virgem de ilusões do amor
peixe em curral marinho
mais parece que só um ator
incessível ao real carinho


mas o tempo passa
isso não é novidade
o palhaço perde a graça


o poeta, na verdade
é o caçador que já não caça
, e o leitor só leu tarde

sábado, 25 de dezembro de 2010

entorpeci

entorpeci a mente
eu pirei, quando a onda passou
foi tudo de repente
desliguei
mas a luz não acabou


eu tinha uma lanterna no armário
um maço de velas no bolso
me encontrei trancado igual otário
e a gravata enforcava meu pescoço


mas não adianta
não há nó que não se poça cortar
a pipa só levanta, com a linha,
e com o vento à soprar


quando acordei
era domingo de manhã de sol bem quente
e não há lei, que eu vi
que dispense a noite pra dormir, da gente


mas tome, vide bula
banque o psiquiatra amigão
que diz na cara dura
"a gangue do santinho que não tá com nada, está indo pra prisão"


beba laranja mecânica
corra uns quilômetros meios
e evite pensar. Comida orgânica,
faz bem pro paladar dos cheios


estudei a matemática do sobrenome
não entendi na aritmética e na regra de três
como se pode ser mais ou menos nome
se todos são iguais, cachorro, escravo, gato e o freguês


a luz iluminou o meu apartamento
foi quando eu vi que não estava sozinho
mas o mundo social é um tanto ciumento
roubou os meus amigos e eu fiquei, estranho no ninho


a onda voltou, eu não peguei
fiquei na maré mansa, numa dança ospicial
porque surfista já tem muito, eu sei
agora eu quero ver pegar a onda legal

domingo, 5 de dezembro de 2010

escolha

a escolha é certa
o certo, que a escolha é sua
se traça linha no deserto
ou segue a mesma rua


se vai à nado, à remo
à teima, a estrada é sua,
as curvas e labirintos,
os caminhos pra lua


as portas e as rotas
os mapas, os tapas na face
bem certo que faz-se destino
é o menino que sonha e flutua


os vales, a valentia
a agonia, alguns dias
a semente de liberdade
o broto que nasce torto


a vida seguida e partida,
reprimida, implodida em seguida
o rumo da cachoeira
tranqüila e depois se agita


a escolha, nem sempre é sua
é a crua e nua verdade
a idade, a cidade a, vida
a lida pode ser sua