segunda-feira, 22 de março de 2010

grito

forte é meu grito
grito de morte
morri, quase nenhuma vez
me lembro bastante pouco
louco que emputecí
gritei que rachou-me a goela
naquela noite infeliz
forte que o grito foi

pensei que seria fácil
tentei mas não consegui
cantei como a cigarra
na farra do meu encanto
a morte passou bem longe
e um monge se assustou
berrou, doido varrido
não alugou meu ouvido

mas grito não soa bem
quem grita sabe que é bom
e não agrada ninguém
quem tem grito no peito
sem geito de libertar
no ar sem moldar juízo
não sabe que é bom gritar

não grito

gritei até ficar rouco, mas ninguém me ouviu
resolví rodar acompanhando o ponteiro do relógio
mas eu fiquei tonto e não deu em nada
eu contei pra todo mundo e alguém deu risadas
me pediram pra contar denovo

eu gritei mais uma vez pra pedir socorro
não é normal alguém querendo me ouvir
mas eu descubrí que era um velho surdo
e no escuro que tava sem os meus sinais
já não me é normal gesticular

contei varias histórias veridicas
mas minhas criticas me condenaram
não costumam dar ouvido à verdade
"Como eu posso aguentar?"
contando eu não ganho a vida

descobri que não sei quase nada,
que a estrada é longa se tiver que chegar
mas nem sei onde quero ir
não gosto de dormir
então fico acordado imaginado por que tenho que partir

já não grito mais, eu não quero paz
mas também não quero perturbar os outros
porque nem todos vão onde a mente alcança
ficar na esperança do que pode acontecer, é uma terapia que não quero pra mim