domingo, 30 de janeiro de 2011

correcorre

a gente corre pra frente
há gente correndo atrás
gente vive sem paz
alegria, quem faz é a gente

na vida gente tenta
quem não tem tempo à perder
há quem não vai perceber
gente que só lamenta

quem corre, chega mais longe,
em tempo, bem mais cedo
é bom que saiba onde

mas tem quem corre de medo
não sei se de algo se esconde
talvez seja segredo

poesia

quando era uma poesia
apaixonada e só sua
simples, ingênua, crua
Não se interessava, e não lia

virgem de ilusões do amor
peixe em curral marinho
mais parece que só um ator
incessível ao real carinho

mas o tempo passa
isso não é novidade
o palhaço perde a graça

o poeta, na verdade
é o caçador que já não caça
e o leitor só leu tarde

circo

atenção, atenção!
o palhaço está aí
rir, só pode de quem ver
e ver sem nada fazer
fazer que não pode ouvir
no trapézio da nação

enquanto na corda bamba
dança o povo caindo
e a corda arrochando
o calor aumentando
cansado de ser reprimido
se torna um alabama

os cães são bem adestrados
latem também se é preciso
não esparramam sujeiras
mordem e sacodem mandados
guardam tão bem nosso fisco
mesmo que às suas maneiras

os malabares são bombas
bom, mas isso são armas
mas é bem precatado
recatado em sua doutrina
animam sinais de transito
nem sempre causando males

domadores de jegue manso
amores de ganso bege
fede odores de ranço
pegador de lebre em cartola
lá o estrume não fede
os caninos jogam bola

circo da nação

devia

antes que eu tivesse ido falar com você ontem
você devia ter me prevenido
antes que eu descoberto, seria mais legal
mas você foi mal pra mim
fora, na vida real
e por garantia quis ter a certeza
que a ligação acabou

e não me disse nada
mais nada aconteceu
e não deu
não dá mais nada

tudo acabou e eu só vi quando perguntei
me falaram a verdade com todas as letras
mas, eu não acreditei
não tinha certeza

você me disse que não tinha
e não tenha acontecido nada
eu percebo que não
tenho coragem de acreditar?

haha hehe

entenda como quiser
hoje eu acordei mais feliz
talvez não tenha razão

verbo

ouço vozes dizendo,

palavras gritadas
não ouço nada
algo está acontecendo

o verbo, veneno
variáveis configurações,
compondo sermões
pouca gente entendendo

por que a luz não é nada,
longe do espelho
é negro o vermelho,
com a luz apagada

quem reflete a cor
é a visão, a matéria
é a veia, a artéria,
pulsação e calor

a voz é o grito,
o som e a canção
é a excitação
é o toque, o conflito

a roda, engrenagem
a pastagem e os bois
quem deixar pra depois
não precisa bagagem

fantasia

me vesti numa mascara
e me entorpeci
parecia mais "cara"
que nem me conheci

segui rumo na estrada
uma vida tão linda
de visão bem focada
o que ainda não vi

só de brincadeira
eu fiz isso comigo
sei que o resto é besteira

eu sou meu inimigo
vou querer me vingar
vendo a morte chegar
à brincar neste bingo

_minha vida,
quem eu sou?
quero ler mais livros,
de histórias de amor

quero fantasia
aprender festejar
eu quero navegar
inventar alegria

livre

o veloz, o velocípede
a velocidade da luz
acredite e tenha na lembrança
porque quando se é criança,
isso está no coração

eu não quero morrer velho,
sem ter minha dentadura
pois a verdade pura,
é até um pouco mais
é querer ter tempo pra mudar as coisas
ter uma cadeira de balanço,
para cochilar em paz
fazer careta,
pose de artista
procurar um anestesista,
pois velhice não tem cura

eu quero ser criança,
só mais um pouquinho
quero correr na chuva,
sem saber se vou me resfriar
hoje eu vou brincar na terra,
pois na terra que eu venho,
não tenho medo de voltar

quero ver a vida no chão
pilotar meu avião com a mão
e mastigar chicletes sem fexar a boca
quem tem boca é quem faz dela o que bem quer
dá de presente, ou alugada, emprestada
beija o chão;
a mão;
o butão da flor,
que foi doada com amor e alguma outra intenção,
pra convencer uma mulher,
talvez tirar a roupa

eu sonho em ser criança pro resto da vida
pra ninguém se preocupar comigo
e não dar ouvidos pro que eu falo
se eu quiser conselhos de um cavalo
ele me ouve como um melhor amigo
tenho muita sorte,
e ainda tem gente que duvida

é muito bom lembrar,
do meu veloz velocípede
ele não solta fumaça,
não polui o mundo
mas roda num segundo,
muito mais que essa esfera
o mundinho do bípede
e nem precisa sair do lugar

enquanto os homens tentam,
correr mais que a luz
descobrir o elixir da velhice eterna
correr mais que as pernas
saber da face de Jesus
cuido do meu coração

lembrança

ontem vi a vida que nunca mais virei
o verde que é hoje azul
o príncipe que hoje é rei
o amargo, indigerível
mas o incrível adulterei

as minhas lembranças torcidas
as rugas da idade na face
o lodo no chão
a calçada rachada
a parede da cozinha,
novamente pintada

ontem vi o meu avô sorrindo
e hoje só fotografia
vi o passarinho voando,
que a gaiola não prendia

amanhã o esquecimento virá
vou virar à meu favor
e o que dirá a minha lembrança
"não quero lembrar de dor"
o que se monta dia-a-dia
isso não deve mudar

meninos de rua

meninos de rua

menino inocência
sem consciência da lua
e sem paciência

sem educação
nem mãe, nem irmão
é a tragédia que não se vê
quando liga a t.V.

não é inclusão social
é o flagrante da vida
nem grito de carnaval
tem gente que duvida
e a justiça local
brigando com a vida

pena, quem tem é galinha
tem gente querendo pão
onde poucos andam na linha
quase todo mundo é irmão
a linda ternura não passa
não sai no portão de casa
e assim vai vivendo a massa
um avião sem asa

não quero pena
nem quero briga
e ver criança pequena
que ninguém liga

sem proteção
mas, com muita conseqüência
e os vidrados na televisão
me fazendo perder a paciência

é mais uma catástrofe
drama de manchete
dente cheio de chiclete
nem sabe o que faz sofrer

a esmola na rua
no sinal vermelho
na cola ou no isqueiro
que amola essa vida sua

há preconceito,
jeito pra tudo,
tiro no peito
só não tem escudo